outubro 04, 2012

Sparks Fly, capítulo 08 - Delicioso.



Peguei meu celular que estava debaixo do meu travesseiro e o guardei no bolso da minha calça, desci as escadas e meu pai estava assistindo jornal na televisão enquanto minha mãe preparava o jantar.
– Não demore, você tem que jantar ainda. – Escutei minha mãe gritar da cozinha e finalmente sai de casa. Tranquei a porta de casa e quando me virei vi Justin sentado em uma das cadeiras de balanço me olhando e sorrindo.
– Acho melhor você pegar um casaco porque vamos para a praia essa noite. – Sorriu maroto enquanto se levantava e senti minhas bochechas esquentarem. Justin realmente não existia.
Capítulo 08 – Delicioso.
Light a fire, a fire a spark, light a fire, a flame in my heart, we’ll run wild, we’ll be glowing in the dark. We’ll be glowing in the dark. All the boys, all the girls, all that matters in the world, all the boys, all the girls, all the madness that occurs, all the highs all the lows, as the room a-spinning goes. We’ll run riot, we’ll be glowing in the dark, so we’ll soar luminous and wired and we’ll be glowing in the dark. 
(Charlie Brown – Coldplay)
Olhava atentamente para a folha de papel que estava em cima da minha mesa e bufei, era impossível resolver aquelas questões de biologia. Quer dizer… Impossível para mim que só conseguia pensar nas coisas que aconteceram na noite passada.
Durante aquela noite foi como se aquele Justin problemático e distante tivesse voltado a ser o garoto meigo e doce que havia conhecido quando ainda pequena.
Mas a verdade era que eu não me importava com o comportamento dele, ou para o que ele tinha se tornado – se é que ele realmente tinha mudado tanto quanto Caitlin havia me dito, porque para mim ele continuava o mesmo, até agora pelo menos –, eu o amava mais que tudo nesse mundo, e nada e nem ninguém iria conseguir mudar isso.
Rabisquei minha mesa com a caneta em uma tentativa falha de me concentrar e olhei para o meu relógio de pulso, uma hora já havia se passado e agora tinha exatamente meia hora para resolver duas provas que estavam completamente em branco e como estava no último ano e nunca havia feito parte de algum grupo extracurricular eu precisava tirar boas notas para garantir uma vaga em uma boa universidade do país se não quisesse virar empacotadora de compras em algum mercadinho de bairro, praga dos meus pais então era bom evitar.
Os alunos iam deixando a sala aos poucos e no final só restava eu, meus pensamentos inapropriados para a hora e a inspetora sentada na sua mesa totalmente entediada – como se ela realmente fosse fazer algo de produtivo quando saísse daqui –. Respondi as coisas mais prováveis e obvias que consegui em quinze minutos e entreguei as provas para a inspetora que rolou os olhos e saiu da sala carregando duas pastas para, provavelmente, entregar aos professores.
Assim que sai da escola senti alguns pingos de chuva molhar a minha pele – aquilo já estava virando rotina já que estávamos nos aproximando do inverno e era questão de tempo para começar a nevar –, não era uma chuva bruta, era só uma garoa chatinha e gelada, mas se esquecesse de pegar meu guarda chuva nos próximos dias com certeza pegaria um resfriado.
Resolvi parar em uma cafeteria antes de ir para casa, era segunda-feira e meus pais nunca almoçavam em casa na segunda, diziam que era o dia mais corrido da semana para eles. Comprei um brownie de chocolate com doce de leite e um cappuccino. Agradeci à garota que me atendeu e sentei-me na mesa mais ao fundo da loja, que por sinal tinha um estilo retro que me deixava extremamente à vontade. Às vezes minha mãe brincava dizendo que eu havia nascido na década e talvez até no século errado, o que não podia deixar de concordar. Era careta demais para a minha idade.
Peguei meu celular dentro da bolsa e deslizei meu dedo sobre a tela do mesmo para poder desbloqueá-lo, no segundo seguinte a foto que havia tirado com Justin ontem a noite no píer invadiu a tela me fazendo sorrir involuntariamente, me sentia tão boba quando reagia dessa forma, mas a felicidade que estava sentindo era tão grande que chegava a doer, e essa dor me trazia de volta à realidade como um balde de água fria sendo jogado pela minha cabeça. Éramos apenas amigos.
Apenas amigos, mas ver a forma que seus braços estavam em volta da minha cintura enquanto os meus repousavam em seus ombros era tão aconchegante que me fazia esquecer completamente desse pequeno e atormentador – diga-se de passagem – detalhe. Eu podia ficar o dia inteiro ali, me deliciando com o sorriso dele que estava direcionado a mim naquela foto, mas logo as lembranças da noite anterior invadiram novamente minha cabeça para me deixar mais abobalhada do que antes.
[...]
– Hum… O que andou fazendo durante esse tempo? – Justin perguntou, mas foi como se sua voz tivesse saído como um sussurro que ficava ecoando em minha cabeça até finalmente perceber que tinha que respondê-lo.
Estávamos indo ao píer, em direção contrária ao vento e esse impacto fazia com que meus cabelos voassem contra meu rosto e mesmo com aquele moletom os pelos do meu braço se eriçavam. Hora ou outra o braço direito de Justin roçava no meu esquerdo e mesmo não sendo um contato direto entre nossas peles meu corpo inteiro entrava em combustão, conseguia sentir até cócegas na palma das minhas mãos.
Até agora me pergunto como consegui abraçá-lo durante tanto tempo no aeroporto sem me derreter completamente em seus braços e implorar por um contato maior, já que só com esse pequeno roçar de braços sentia como se fosse cair à qualquer momento no meio da rua, o que não seria nada legal.
– Nada muito fora do normal. – Dei de ombros e pude perceber seus olhos um pouco curiosos sobre mim, como se estivessem pedindo por mais informações. – Hum… Tudo bem. Conheci Annie, minha atual parceira de química e embora nós não conversamos muito, ela é uma garota bastante legal. Ah, tem Andrew também, um amigo que arrumei assim que você foi embora… Quer dizer, o conhecia há bastante tempo já, mas só quando você foi embora nós nos aproximamos mais. – Olhei para baixo e esfreguei meus braços com a palma das mãos tentando me aquecer. – E você, o que andou fazendo durante esse tempo?
– Arrumei alguns amigos também e comecei a fazer faculdade de arquitetura, mas… Mas acabei trancando a matricula por um tempo. – Disse e apenas balancei a cabeça, porque diferente de Justin não era tão curiosa assim e também porque já sabia o motivo dele ter trancado a faculdade que um dia tanto sonhou em fazer, então não iria obrigá-lo a dizer. – Andrew não é aquele garoto que vivia te perseguindo depois da escola? – Justin perguntou divertido e soltei uma risada fraca pelo nariz.
– Um dia resolvi parar para conversar com ele... Ele não é tão mal assim, só era meio obcecado por mim. – Dei de ombros como se fosse uma coisa extremamente normal e Justin riu dessa vez.
"Não é o único." Sibilou para si mesmo, mas mesmo assim pude escutar sua fala sendo seguida por um suspiro.
– Disse alguma coisa? – Perguntei sentindo minhas bochechas ruborizarem e ele olhou para mim por um instante. Devia ser coisa da minha cabeça, desejava tanto poder escutar Justin dizendo coisas desse tipo para mim que já estava começando a ficar louca.
– Está com frio? – Ignorou minha pergunta e antes mesmo de responder seus braços já estavam me envolvendo de uma forma acolhedora e protetora. – Sei que está. – Disse convencido e balancei a cabeça negativamente contendo um sorriso que eu até daria se sua respiração não estivesse tão próxima ao meu pescoço deixando aquela região entorpecida. – Você ainda se arrepia. – Disse baixo em meu ouvido e se ele queria causar um choque em todo o meu corpo, bem, ele conseguiu.
– Qualquer pessoa se arrepia com outra respirando contra o seu pescoço e... E está frio também! – Tentei parecer convicta no que dizia, mas no final parecia uma garotinha birrenta tentando convencer a mim mesma. Justin riu fraco e pude perceber que estava se divertindo com aquela situação quando soltou sua respiração propositalmente contra o meu pescoço outra vez. – Pare com isso. – Disse com a voz rouca tentando parecer braba e ele virou seu rosto para frente apertando um pouco mais seu braço em minha cintura.
Já conseguia ouvir as ondas batendo contra as pedras na beira da praia e o vento se intensificava de tal maneira que era possível escutar alguns assobios, e no meio disso as risadas dos adolescentes que se reuniam ali no final de semana para beber e fumar era evidente, ainda mais com a música alta que saia do carro de algum deles.
Somente quando nos sentamos na beira do píer – sem nos importar com a barreira de segurança – percebi que os braços de Justin ainda me prendiam junto ao seu corpo e isso me fez sorrir involuntariamente.
Justin tirou seu celular do bolso da jaqueta que estava usando e apontou o mesmo na minha direção e sem ter nem tempo de relutar os flashes já atingiram o meu rosto.
– Você devia ocupar a memória do seu celular com coisas importantes não com fotos minhas. – Disse e Justin sorriu divertido enquanto tirava outra foto.
– Tenho mania de tirar pelo menos uma foto das garotas com quem eu saio. – Disse indiferente, mas para mim aquilo não era nem um pouco “indiferente”, tinha certeza que naquele momento todo o sangue do meu corpo foi parar nas minhas bochechas enquanto minha boca se abria em uma patética forma de “o”, quer dizer, eu sempre reagia de forma patética perto dele. Justin percebeu minha reação e seu sorriso diminuiu um pouco. – É brincadeira Mel. – Declarou e soltei minha respiração vagarosamente pela boca. – Agora sorria. – Completou e arrumou seus braços na minha cintura enquanto posicionava seu celular na nossa frente, sorri timidamente e logo senti o flash no meu rosto outra vez.
Justin pediu meu celular e passou a foto para o mesmo enquanto minha cabeça tentava processar aquilo, bem, pelo menos estávamos voltando a ser o que éramos antes.
[...]
– Você é uma medrosa! – Justin declarou por fim e olhei para ele carrancuda.
– Não sou! – Cruzei meus braços de uma forma totalmente infantil e ele riu mais ainda.
– Claro que é, seus pais entortam um pouco os olhos e você, mesmo que tenha razão, se tranca no seu quarto para não ter que enfrentá-los. – E mais uma vez ele tinha razão, mas meu orgulho era grande demais para admitir.
– Sou uma boa filha, não medrosa e só tento evitar briguinhas desnecessárias. – Disse e ele revirou os olhos.
– Tudo bem, agora me diga quantas coisas você já deixou de fazer para evitar essas “briguinhas desnecessárias” que são totalmente normais na sua idade?
– Só não quero ser mais uma “rebelde sem causa” Justin e você sabe que detesto isso. – Ignorei sua pergunta, porque afinal de contas eu já tinha até perdido as contas de quantas coisas deixei de fazer até hoje por “medo” de desapontar meus pais.
– Só queria que você se divertisse e se arriscasse mais Mel, um pouco de rebeldia não faz mal a ninguém. – Deu de ombros e bufei.
– Ok, você quer que eu faça o que? Tire minha roupa e pule no mar só de roupa intima? – Perguntei irônica e ele arqueou sua sobrancelha esquerda, como sempre fazia quando estava ponderando internamente alguma idéia.
– Não seria má ideia, quer dizer, todo mundo já fez isso alguma vez na vida, mas já é um bom começo...
– Eu só estava brincando. – Deixei claro, mas Justin pareceu ignorar e logo se levantou estendendo uma de suas mãos para mim. – Não vou fazer isso. – Disse assim que levantei e ele jogou sua jaqueta no chão enquanto tirava sua camiseta.
– É bom você tirar logo sua roupa se não quiser que eu mesmo a arranque do seu corpo. – Deu um sorriso irônico e em seguida mordeu seu lábio inferior, olhei atônita para Justin, mas logo ponderei aquela possibilidade, quer dizer... Não seria nada mal se ele realmente fizesse isso, não é?
– Isso não é rebeldia Justin, é tentativa de suicídio! – Disse exasperada assim que percebi que a única peça de roupa que lhe restava tirar era sua calça. Não sabia qual medo era maior; o de morrer congela ou o de ver Justin seminu na minha frente.
E com certeza era o de vê-lo seminu na minha frente. Droga! Como ele tinha conseguido ficar mais... Mais tão delicioso do que antes?
Quando vi Justin no aeroporto tinha certeza que seu corpo havia passado por uma grande mudança, mas não fazia ideia do quão grande ela havia sido até vê-lo praticamente sem roupa na minha frente, a tatuagem que havia feito na base do seu abdômen quando tinha quinze anos estava ainda mais irresistível com a camada de músculos que estava sob ela, no canto das suas costelas tinha uma tatuagem nova assim como havia varias outras distribuídas pelo seu corpo, seus braços e seu tórax estavam bem mais definidos do que antes sem contar no seu trapézio e nas suas costas largas que me faziam tremer e sentir um calor estranho no meu corpo só de me imaginar mordendo e arranhando aquelas regiões.
– Cuidado para não babar. – Declarou sorrindo debochando e pisquei meus olhos várias vezes tentando sair de transe e arrumar uma desculpa a altura para respondê-lo, mas antes mesmo de conseguir fechar minha boca Justin se jogou no mar o que me fez correr até a beira do píer para ver se ele estava bem.
– Bieber seu idiota! – Gritei assim que vi sua cabeça emergir e o mesmo respirar afobado.
– Vamos logo Mel, não vai querer mesmo que eu suba até ai para arrancar sua roupa, não é? – Gritou de volta e o xinguei baixinho, era exatamente isso que eu queria.
Joguei o moletom que estava usando em cima das suas roupas e coloquei meus tênis junto com os dele.
– Espero que não esteja usando uma de suas calcinhas gigantes com estampa de joaninhas ou coelhinhos. – Gritou e gargalhou em seguida.
– Para o seu azar é exatamente isso que estou usando. – Gritei de volta e joguei minha blusa e minha calça em cima o bolo de roupas que havia se formado.
– Não tem problema, eu gosto. – Declarou risonho assim que me aproximei do parapeito do píer e olhei para baixo.
– Você não tem que gostar de nada Justin. – Revirei meus olhos e em seguida senti o impacto do meu corpo com a água extremamente gelada. Nadei até a superfície e logo os braços de Justin envolveram a minha cintura me fazendo encostar a cabeça no seu peito. – Canadense maldito. – Disse assim que percebi que Justin mal rangia seus dentes de frio.
– Pode deixar que te esquento, gatinha. – Piscou um olho e puxou minhas penas em volta da sua cintura, balancei a cabeça negativamente enquanto ria e escondi meu rosto em seu pescoço.
[...]
Bem, podia até ser considerada uma das noites mais perfeitas da minha vida se meu pai não tivesse aparecido completamente desesperado há minha procura junto com dois policiais e estragado o final dela, e podia também até ter perdido completamente a confiança deles – como o mesmo havia dito –, mas por outro lado estava mais feliz do que nunca, afinal de contas, qual garota não estaria?

1 comentários:

Gi, Joy disse...

aww adorei esse capitulo :3

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